sábado, 7 de agosto de 2010


 Ignorante de mim


Guardo em mim aquilo que já vivi.
Não por escolha, é a ordem natural das coisas.
Como a luz penetra meu olhar, assim
minhas alegrias e tristezas,
meus ganhos e perdas
invadem minha proteção natural.
Nada os pode impedir.
Nem pele, nem pêlos, nem córnea.
Nem preconceitos, conhecimentos, ignorâncias.
Não. Tudo isso é apenas filtro,
não muro, barreira.
Simplesmente elas invadem,
indo de encontro a minha retina.
Imprimindo uma tatuagem
de sentimentos, sensações, pensamentos: experiências.
Mácula densa.
É através dessa tatuagem que vejo o mundo.
Meu mundo, seu mundo.
De uma forma única, especial.
Minha. Idiossincrasia.
Quando me olhas então,
certamente não vês só o que vejo agora.
Não podes ver só o que sinto agora.
Não podes ver só o que vivo agora.

Não.
Quando me olhas,
no fundo e íntimo de meus olhos,
vês a minha história.
E se teu olhar não é tão profundo e íntimo assim...
Se quando me olhas, olhas de relance,
se te prendes apenas a pele, pêlo e córnea,
verás apenas sombra e serás,
eternamente,
um ignorante de mim.